quinta-feira, 30 de junho de 2011

O golfinho, a alegria e o sonho


Tenho uma amiga que sonhou que um dia, passeando em Londres,  viu um golfinho nadando no Rio Thames, em frente a um prédio da Mercedes Benz, bem no centro financeiro da cidade.  Só poderia ser sonho, pois seria coisa de português encontrar um golfinho no rio, numa cidade como Londres.
Mas falando em sonhos, esta viagem por Zurique, Berlim e Londres fica na memória como sonhos. O verão europeu esquentou, fez calor e frio ao mesmo tempo, exibiu as flores e os verdes das árvores e diminuiu as roupas e sapatos. Andamos muito, vimos cenários bonitos e outros nem tanto. Muita pichação em todo lugar, e mesmo em monumentos e esculturas. É assim no mundo todo. É a linguagem mundial, coisa de internet, You Tube e iPod. Individualidade.
A alegria vem de Schiller, poeta alemão, que Beethoven incluiu na nona sinfonia como sendo a ODE À ALEGRIA. Em alemão: ODE AN DIE FREUDE.
Tive a graça, se é assim que se pode dizer, de assistir no último dia, como encerramento de mais uma viagem, a nona sinfonia ao vivo e a cores em Zurique, com a orquestra da Tonhalle, com Kurt Masur. Foi realmente uma alegria, cheia de conteúdo e de esperança. Todos foram aplaudidos (de pé) por bem mais de 10 minutos até o maestro fazer um tchauzinho e jogar beijos para a plateia.
A alegria.
O fato da gente acordar, se levantar e sair, tem um aspecto de alegria. A esforço que se faz para sair do estado de sono para ficar alerta e enfrentar o dia que começa, tem uma ponta de alegria. É a alegria de viver, de alguma maneira ser feliz e de ficar em paz. Todos temos a obrigação de ter alegria em nossas vidas. Se não a temos precisamos procurar onde ela está, pois ela existe e é tão boa.
O sonho.
Esta é a liberdade que a gente não controla. O sonho flutua na nossa mente, de um lado para outro, sem pé nem cabeça e sem explicação. É a fantasia pura. Se é a purgação de fatos que existiram ou se tem simbolismos, não vem ao caso os motivos. Estou vendo pela liberdade sem amarras.
Sonhar é bom, leva a gente a uma distancia, onde se pode ver golfinhos no rio Thames ou mesmo sentir a alegria que Schiller descreveu na Ode à Alegria.
O golfinho.
O golfinho sou eu, que sonha em estar livre, nadando pelos rios e mares do mundo ouvindo a sinfonia de Beethoven e sentido uma tremenda alegria.

Se tiverem um tempinho, assistam a este vídeo:


quinta-feira, 16 de junho de 2011

A nuvem sobre Berlim


Como tatus e fuinhas, fomos descobrir Berlim pelos tuneis do metro. Norte, sul, leste e oeste.
A menção de leste e oeste, nesta cidade é um enrosco só. Isto porque a guerra fria dos anos 50 e 60 fizeram com que os russos dividissem a cidade pelo meio, através de um muro. Não tinha ninguém que queria ir do oeste para o leste, mas do leste para o oeste sim, tinha muita gente querendo ir. E os soviéticos atiravam sem dó para matar quem tentasse passar para o outro lado. Mas seriam soviéticos? Ou os próprios alemães convertidos pela propaganda marxista?
Vi cartazes da época que diziam que alemão não mata alemão, mesmo assim, os soldados do tal muro eram alemães.
Falando em alemães, saímos numa estação do metro que dava num novo “Memorial do terror”. Um espaço aberto, onde debaixo de ruinas havia uma exposição dos campos de extermínio de judeus. E sempre a mensagem de “nunca esquecer”.
Fui ao Museu Judaico, onde tem a história dos judeus desde os tempos antigos, seus costumes e hábitos. Claro que um maior espaço é dedicado ao Holocausto, e a mensagem de sempre que nunca devemos esquecer.

Numa andança pela cidade, de noite, fui parar numa antiga estação de trem chamada ANHALTER. Só tinha uma  parte da fachada, e um grande espaço livre na parte dos fundos. Tinha uma placa explicativa a respeito. E foi aí que vi uma nuvem cinza em cima da cidade. Uma nuvem escura, densa, daquelas que ficam para sempre. Um tipo de pesadelo de força máxima.

A placa dizia o seguinte:
Foi nesta estação que os nazistas embarcavam os judeus para os campos de concentração e posteriormente para os campos de extermínio. Os judeus chegavam na estação de ônibus ou em caminhões,  com suas pequenas malas, em grupos  vindos de vários lugares e eram fortemente escoltados por guardas armados, e embarcados em trem de carga. As pessoas que estavam na estação indo ou vindo de algum lugar, viam o que acontecia e nada faziam.
Dá para entender o “não fazer nada” pois eram muitos guardas armados. Mas que eles sabiam , sabiam o que acontecia. O povo na época era conivente sim.

Por um instante minha mente fugiu e vi um comboio destas pessoas, submissas, mal vestidas, doentes e tristes sendo deslocadas das suas casas, do seu País, para ir não se sabe onde. Consegui ver o povo olhando este comboio e silenciar a medida que eles passavam. Consegui ver meu avô e avó paternos no meio do comboio, desesperados olhando para mim e eu nada pude fazer.

Podem unificar Berlim, como fizeram depois da queda do muro, podem reconstruir casas, igrejas e monumentos. Podem modernizar a cidade com prédios monumentais de arquitetura ultra moderna.
Podem fazer de tudo, mas sempre vai pairar no ar uma nuvem cinza chumbo, pesada e carregada de uma poeira que gruda na memória do ser humano.



domingo, 5 de junho de 2011

Emmanuel Pahud



Desde 2006, nas salas de concerto, tenho procurado ver este flautista. Já o vi em Luzern com a pianista Helène Grimaud e nos concertos digitais da Berliner Philharmoniker.
Pahud é um excelente flautista, com olhar cínico, jeito de bon vivant e extremamente seguro de si mesmo. Assistimos ontem em Zurique a um concerto com orquestra de câmara numa obra de Mozart para flauta.
Sentei na primeira fileira e fiquei com um lenço enxugando a minha babação. Estava a 2 metros de distancia dele e fiquei em estado de graça de poder ouvir a flauta. Havia momentos  em que eu não via a orquestra e nem o publico e fiquei com certeza que ele estava tocando só para mim. Uma ilusão boa de sentir.
No intervalo, saí correndo para comprar um CD das obras de Mozart para flauta, rasguei o celofane rapidinho e me postei na fila para um autógrafo.  Quando ele apareceu no corredor, me pareceu que ele diminuiu de tamanho, ficou baixinho e afinal  era normal.
A minha impressão  era que ele fosse alto, uns 2 metros de altura,  forte e gordinho e bem apessoado. Eis que de repente aparece um baixinho mas cheio de charme.
Consegui não só um autógrafo no CD, mas um monte de fotografias dele, algumas posando comigo.
Falei com ele!! Ele me contou dos próximos concertos, que virá ao Brasil no ano que vem, e dos planos dele na Berliner onde ele é “Principal Flautist". Apresentou os filhos que estavam lá com ele Tristan e Gregoire. Pediu que eu organizasse uma recepção para ele em São Paulo, e que ele faria um concerto beneficente que eu poderia organizar.
Saí de lá encantado com ele e o que ele representa para a música, e feliz com a ilusão que ele estava tocando só para mim, e que eu iria organizar a vida dele no Brasil. Pura ilusão, mas uma delicia de sensação.


   Como toda história bonita, tem um lado triste. Ele cria os filhos sozinho e o mais velho tem uma  leve sindrome de Down. É um menino bonito, doce mas com o olhar longe e curioso.


Vejam:  http://www.youtube.com/watch?v=w6HEn0Zu5tI&feature=related