Como tatus e fuinhas, fomos descobrir Berlim pelos tuneis do metro. Norte, sul, leste e oeste.
A menção de leste e oeste, nesta cidade é um enrosco só. Isto porque a guerra fria dos anos 50 e 60 fizeram com que os russos dividissem a cidade pelo meio, através de um muro. Não tinha ninguém que queria ir do oeste para o leste, mas do leste para o oeste sim, tinha muita gente querendo ir. E os soviéticos atiravam sem dó para matar quem tentasse passar para o outro lado. Mas seriam soviéticos? Ou os próprios alemães convertidos pela propaganda marxista?
Vi cartazes da época que diziam que alemão não mata alemão, mesmo assim, os soldados do tal muro eram alemães.
Falando em alemães, saímos numa estação do metro que dava num novo “Memorial do terror”. Um espaço aberto, onde debaixo de ruinas havia uma exposição dos campos de extermínio de judeus. E sempre a mensagem de “nunca esquecer”.
Fui ao Museu Judaico, onde tem a história dos judeus desde os tempos antigos, seus costumes e hábitos. Claro que um maior espaço é dedicado ao Holocausto, e a mensagem de sempre que nunca devemos esquecer.
Numa andança pela cidade, de noite, fui parar numa antiga estação de trem chamada ANHALTER. Só tinha uma parte da fachada, e um grande espaço livre na parte dos fundos. Tinha uma placa explicativa a respeito. E foi aí que vi uma nuvem cinza em cima da cidade. Uma nuvem escura, densa, daquelas que ficam para sempre. Um tipo de pesadelo de força máxima.
A placa dizia o seguinte:
Foi nesta estação que os nazistas embarcavam os judeus para os campos de concentração e posteriormente para os campos de extermínio. Os judeus chegavam na estação de ônibus ou em caminhões, com suas pequenas malas, em grupos vindos de vários lugares e eram fortemente escoltados por guardas armados, e embarcados em trem de carga. As pessoas que estavam na estação indo ou vindo de algum lugar, viam o que acontecia e nada faziam.
Dá para entender o “não fazer nada” pois eram muitos guardas armados. Mas que eles sabiam , sabiam o que acontecia. O povo na época era conivente sim.
Por um instante minha mente fugiu e vi um comboio destas pessoas, submissas, mal vestidas, doentes e tristes sendo deslocadas das suas casas, do seu País, para ir não se sabe onde. Consegui ver o povo olhando este comboio e silenciar a medida que eles passavam. Consegui ver meu avô e avó paternos no meio do comboio, desesperados olhando para mim e eu nada pude fazer.
Podem unificar Berlim, como fizeram depois da queda do muro, podem reconstruir casas, igrejas e monumentos. Podem modernizar a cidade com prédios monumentais de arquitetura ultra moderna.
Podem fazer de tudo, mas sempre vai pairar no ar uma nuvem cinza chumbo, pesada e carregada de uma poeira que gruda na memória do ser humano.
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