domingo, 29 de maio de 2011

Poesia


Hoje tenho uma poesia triste para colocar no meu blog.
Goethe escreveu  e Schubert musicou este poema por volta de 1815. Vale a pena ler e depois ouvir no YOUTUBE uma interpretação magnífica de Dietrich Fischer-Dieskau.
Precisa levar em conta que na verdade são 4 personagens que o poema e o cantor representam: 1- o narrador, 2 –o  pai, 3 - o filho, 4 - o tal Rei dos Elfos.
O piano dá o tom da cavalgada, do mistérrio e do terror, e o cantor muda o tom de voz a cada personagem que interpreta.
Na verdade é um pequeno poema de amor e tragédia que nos faz pensar no nosso dia a dia, na fragilidade da vida e no amor que se tem ao próximo.
Ouçam, reflitam e  vivenciem este poema.



Quem cavalga tão tarde pela noite e pelo vento?
É um pai com seu filho.
Ele leva a criança em seus braços,
Ele o segura firme, ele o mantém aquecido.

"Meu filho, por que esconde tanto seu rosto?"
"Não vê, pai, o Rei dos Elfos?
O Rei dos Elfos com sua coroa e manto?"
"Meu filho... É apenas um filete de névoa."

"Você, criança querida, venha comigo
Tantos jogos divertidos jogaremos um com outro
Flores coloridas estão na praia,
E minha mãe tem para você vestes douradas."

"Meu pai, meu pai, não consegue ouvir
O que o Rei dos Elfos sorrateiramente me disse?"
"Fique calmo, fique calmo, meu filho,
 era apenas o vento passando pelas folhas secas."

“Belo garoto, vem comigo, não quer vir?

Minhas filhas cuidarão muito bem de você 

Minhas filhas estarão ao seu lado à noite

E vão dançar e cantar até você dormir.”

"Meu pai, meu pai, não consegue ver?
As filhas do Rei dos Elfos naquele
tenebroso lugar?"
"Meu filho, meu filho, bem sei o que vejo:
Apenas os velhos e cinzentos salgueiros."

"Eu te amo, sua beleza me encanta,
Mas, caso não queira vir por bem, então usarei a força!"
"Meu pai, meu pai, ele me pegou!
O Rei dos Elfos está me machucando!"

O pai, a tremer, apressa a cavalgada.
Ele segura em seus braços o menino a gemer.
Mas, com esforço e angustia chega em sua morada,
Mas em seu braços  a criança estava morta.

http://www.youtube.com/watch?v=5XP5RP6OEJI

terça-feira, 24 de maio de 2011

ConSerto


CONSERTO
Estive outro dia na Sala São Paulo para assistir a um conCerto de câmara.
A execução foi magnífica e  o conCerto bem agradável.
Durante o conCerto, a imaginação da gente viaja. E viaja longe. A obra em questão era difícil de assimilar, o que facilitava a viagem ser mais longa.
Fui até o Monte das Caveiras em Jerusalém, onde vi uma cruz no alto do tal monte. Fazia calor e frio ao mesmo tempo e sol e chuva também. Acho que a música me deixava abstrato.
Cheguei  um pouco mais perto da cruz e vi que tinha um movimento de pessoas ao redor. Vi uma senhora grande e baixinha vestida de preto se debelando com umas 5 pessoas. Estavam querendo crucificá-la. Ela era a única a falar, gritar e se contorcer enquanto os outros em silencio absoluto forçavam-na em direção a cruz.
De longe  vi que ela carregava uma bolsa enorme e dava bolsadas em todos.
De repente notei que eu estava segurando um braço dela e encaminhando para a cruz. Me deram um prego enorme, um martelo e percebi que era eu que tinha que pregar esta mulher na cruz.
Os instrumento musicais deram um intervalo, e quando olhei para traz, a mulher que eu iria crucificar estava por acaso bem atrás de mim, abrindo e fechando a bolsa o tempo todo, tossindo na minha nuca, abrindo o celofane de uma bala e depois brincando com a embalagem, e assim por diante.
A mulher em Jerusalém, no Monte das Caveiras era ela, e eu teria que crucificá-la. E faria com prazer, pois era o que ela merecia naquele momento.
Mas a história que queria contar vai além das Caveiras. Vai  parar nas favelas brasileiras.
A segunda parte do conCerto era forte, agressiva, tumultuada, com os instrumentos tocando ao mesmo tempo em total dissonância. Me senti no meio de um tiroteio na favela da Rocinha, tentando defender a Gisele Bündchen. Foi difícil e quase não consegui. Tivemos que sair por uma porta de emergência, subir escadas no escuro, sair pelo saguão do palácio e quando achei que finalmente estávamos salvos, havia um homem alto, jovem, fardado  cheio de insígnias e sem paletó mas estava com uma arma de grosso calibre na cintura.
A musica me levou para longe, mas não tão longe de mim, na primeira fila da Sala São Paulo, havia um homem, alto, jovem, fardado cheio de insígnias e sem paletó que de fato estava com a tal arma na cintura, a vista de todos.

Concerto é com c ou com s?
Nós assistimos a um conCerto, mas a Sala São Paulo, a Sociedade de Cultura Artística e o Governo do Estado precisam é de um bom conSerto no que se refere a entrar com arma de fogo num teatro ou sala de conCertos .

domingo, 15 de maio de 2011

Pichadores 2


Na distinção que quero fazer, aparecem 3 categorias na comunicação da pichação. Na verdade toda pichaçãoo, seja artística ou não tem como finalidade a comunicação.
Então vamos lá.
A primeira seria a comunicação suja. Uma falta de talento,  raiva, angustia e uma vontade de destruir o que não é dele. Categoria:  PICHADOR ANARQUISTA . Não só de estragar muros, portas,  fachadas mas estragar e sujar monumentos, pedras, mármores, antiguidades e propositalmente destruir o que existe. É o protesto puro e simples. Nesta categoria entram as gangues, competições e recados.

A segunda  seria da comunicação visual.  Aparece o talento e a vontade de aparecer, ser celebridade, ser conhecido. Categoria: PICHADOR ARTISTA FRUSTRADO. São graffiti em muros ou espaços públicos cuja finalidade seria de comunicar um talento,  como os efeitos em 3D, ou os que tentam mostrar talento mas acabam destruindo o espaço publico e privado. Seria como um objeto enferrujado.

A terceira  seria a da comunicação artística.  Esta tem como intenção de “embelezar” um espaço, decorar, mas sempre com o intuito de aparecer, se mostrar e se vender. Não tem protesto. Categoria: GAFITEIRO.
Aparecem os Alex Vallauris, o Cobra, que entre muitos trabalhos fez o da 23 de maio, e outros artistas.  Trabalham de graça para obter trabalho pago, exposição ou modismo de pintarem paredes de casas particulares.

Recomendo leitura de um post: OUTRAS PALAVRAS, um artigo de CAROLINA GUTIERREZ: Graffiti, arte de rua, poesia e protesto ( muito melhor e mais cientifico que o meu)  http://www.outraspalavras.net/2010/09/11/graffiti-arte-de-rua-poesia-protesto/



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eu matei


Eu matei.       
Há anos estava tudo preparado. Todos os planos checados e rechecados semanalmente. O serviço de inteligência monitorava por anos a mesma cidade, a mesma área, a mesma casa. A gente não sabia o por que disso tudo.
Sempre quando chegávamos ao ponto 3, víamos a mesma cena na enorme tela. A casa em detalhes de HD, quem entrava e quem saía.  Via-se tudo ao vivo e a cores.
Um jardineiro que ia em dias aleatórios era o nosso alvo. Mas porque um jardineiro? Veio a instrução de abduzir esta pessoa, sem que ninguém percebesse.   A ordem prosseguia no sentido de alerta máximo: de que uma vez o tal jardineiro desaparecesse da face da terra, haveria uma ação fulminante.
Pois bem, foi assim que aconteceu. Vestimos nossas roupas a prova de UZIS, e de qualquer outro tipo de arma, colocamos nosso capacete desenvolvido pela Nasa e Billington, que é a prova de contaminação atômica e de tiro. Assim nos sentíamos protegidos.   Podia até ter uma explosão com bomba de hidrogênio, que nós estávamos seguros.
O jardineiro saiu da tal casa, virou pra cá, virou pro outro lado, seguiu em frente e antes de perceber, ele sumiu.
No ponto 4, com tradução simultânea que a expert Terèse fazia, ele contou tudo e como funcionava a tal casa. Em questão de minutos fomos até a casa e atiramos em todo mundo sem distinção. Só uma pessoa deveria sair ilesa. E foi assim que aconteceu.
Ninguém viu, ninguém notou mas em questão de segundos Bin Laden estava a bordo do meu helicóptero. Antes que ele tentasse qualquer coisa, foi despido, a barba cotada e os olhos encobertos. Como ele não falava, e via-se que ele não iria abrir a boca,  nós o sedamos  lentamente ao ponto de manter certa consciência.  Aí ele falou tudo o que o pessoal queria. Como ele fazia hemodiálise, pegamos a cânula que ele tinha no braço e injetamos insulina  para que ele falasse ainda mais . Falou um pouco mais.
Depois veio a ordem. Antes de atirar o corpo no mar, quem quiser que atire no monstro. E eu atirei.
Não me arrependo do tiro, só me arrependo de ser ingênuo e hipócrita como a grande maioria dos meus conterrâneos e acreditar neste história.
E daí? O que mudou para mim ou para o mundo? Nada.
Uma enorme e caríssima operação de quase uma década para acabar deste jeito e fazer com que o mundo (planeta) todo acreditasse nesta bobagem.
O falecido já não tinha importância na organização há muito tempo. Passava o tempo casando e fazendo filhos  e vendo propaganda de Coca Cola. E comendo pipoca Orville amanteigadas.
Tudo por uma eleição, tudo por uma causa pouco nobre--vingança--e tudo pela
ganancia do poder.
E nós por trás de tudo isso.
Eu protesto

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pichadores


Inicio este Blog com a intenção de trazer à superfície questões que incomodam a gente que não sabemos como agir.
O primeiro assunto em pauta é sobre a pichação.
Sabe-se que os pichadores agem em grupos. Vamos chama-los de gangues. É raro um pichador individual. Estas gangues disputam espaço com outras do mesmo bairro ou bairros vizinhos. O básico das disputas são vantagens que uns conseguem sobre os outros, ou seja: quem picha mais alto, mais colorido, mais proibido, mais arriscado e assim por diante. São pessoas que possuem um certo dinheiro pois a tinta não é de graça. Não precisa muito, pois em grupo dividem a conta. Alguma instrução eles tem, pois na maioria das vezes os desenhos fazem sentido e a escrita não é das piores.
O que é comum a eles é o que nós chamamos de desrespeito a propriedade alheia e a desconsideração com a cidade.
Nós achamos que eles emporcalham a cidade, deixam-na  com ar de abandono, suja e descuidada.
Mas é isso que eles querem. Eles são anarquistas e o caos é o objeto deles.
Como conviver com estes dois aspectos: o caos e a ordem.
O mesmo se dá em viver em condomínio. O vizinho gosta de pagode e o outro de jazz. Um coleta lixo ecológico e o outro atira na rua. Um fecha o terraço do prédio com vidro o outro deixa como comprou. Um tem cachorro chato que late, o outro tem um papagaio. E assim por diante. Tudo tem que ser resolvido na boa vontade, no meio termo e no acordo.
Assim deveria ser com os pichadores.
Quantos eles são? Quantas gangues? Imagino que não passem de 60.000 indivíduos. Todos na grande São Paulo. Todos caberiam num estádio de futebol. De pé no gramado ou sentados nas arquibancadas.
Esta população do estádio seria responsável pelo emporcalhamento de toda a cidade?
Dá para imaginar que 60.000 indivíduos conseguem fazer com que 16 milhões de habitantes convivam com esta sujeira? E os turistas?
Não ofereço sugestões de soluções. Só quero que todos pensem que menos de meio porcento da população se faz notar, anonimamente mas visualmente com poder.
É este poder que o anarquista quer. E é aí que se deve começar a entender como proceder daqui para frente.