CONSERTO
Estive outro dia na Sala São Paulo para assistir a um conCerto de câmara.
A execução foi magnífica e o conCerto bem agradável.
Durante o conCerto, a imaginação da gente viaja. E viaja longe. A obra em questão era difícil de assimilar, o que facilitava a viagem ser mais longa.
Fui até o Monte das Caveiras em Jerusalém, onde vi uma cruz no alto do tal monte. Fazia calor e frio ao mesmo tempo e sol e chuva também. Acho que a música me deixava abstrato.
Cheguei um pouco mais perto da cruz e vi que tinha um movimento de pessoas ao redor. Vi uma senhora grande e baixinha vestida de preto se debelando com umas 5 pessoas. Estavam querendo crucificá-la. Ela era a única a falar, gritar e se contorcer enquanto os outros em silencio absoluto forçavam-na em direção a cruz.
De longe vi que ela carregava uma bolsa enorme e dava bolsadas em todos.
De repente notei que eu estava segurando um braço dela e encaminhando para a cruz. Me deram um prego enorme, um martelo e percebi que era eu que tinha que pregar esta mulher na cruz.
Os instrumento musicais deram um intervalo, e quando olhei para traz, a mulher que eu iria crucificar estava por acaso bem atrás de mim, abrindo e fechando a bolsa o tempo todo, tossindo na minha nuca, abrindo o celofane de uma bala e depois brincando com a embalagem, e assim por diante.
A mulher em Jerusalém, no Monte das Caveiras era ela, e eu teria que crucificá-la. E faria com prazer, pois era o que ela merecia naquele momento.
Mas a história que queria contar vai além das Caveiras. Vai parar nas favelas brasileiras.
A segunda parte do conCerto era forte, agressiva, tumultuada, com os instrumentos tocando ao mesmo tempo em total dissonância. Me senti no meio de um tiroteio na favela da Rocinha, tentando defender a Gisele Bündchen. Foi difícil e quase não consegui. Tivemos que sair por uma porta de emergência, subir escadas no escuro, sair pelo saguão do palácio e quando achei que finalmente estávamos salvos, havia um homem alto, jovem, fardado cheio de insígnias e sem paletó mas estava com uma arma de grosso calibre na cintura.
A musica me levou para longe, mas não tão longe de mim, na primeira fila da Sala São Paulo, havia um homem, alto, jovem, fardado cheio de insígnias e sem paletó que de fato estava com a tal arma na cintura, a vista de todos.
Concerto é com c ou com s?
Nós assistimos a um conCerto, mas a Sala São Paulo, a Sociedade de Cultura Artística e o Governo do Estado precisam é de um bom conSerto no que se refere a entrar com arma de fogo num teatro ou sala de conCertos .
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