quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pour Teréze

Peguei o trem em Zurique com destino a Lucerne. Cheguei na estação, comi um sanduíche, atravessei a rua e já estava no KKL, o concert hall de Lucerne. Era cedo e fiquei zanzando por lá quando descobri que o povo todo estava assistindo uma explicação do que seria o concerto da noite. Ouvi desinteressado pois o maestro não me pareceu muito simpático.
Pontualmente as 19:30h começou o concerto. Casa cheia, orquestra local e um pianista. Acredito que o publico era de familiares da orquestra pois era um povo meio caipira. Aquele que iria aplaudir entre dois movimentos. E não deu outra.
Ele entrou tímido, passinhos curtos, bem mais magro e com sorriso de aeromoça. Sentou-se ao piano e como sempre não ajustou o banco. Deu um sinal ao maestro e começou a tocar. O concerto para piano e orquestra numero 4 de , Beethoven, começa com um solo de piano e em seguida entra a orquestra. É um concerto lindo, e dá ao pianista uma excelente exposição. O maestro se encantou com o pianista. Também acho que por ser local, nunca talvez tivesse ele regido a orquestra (mais para banda do que propriamente um orquestra) com uma sumidade ao piano. No segundo movimento, na parte onde o pianista faz um solo grande, o maestro se virou e ficou admirando aquelas mãos pequenas, como se perguntando como ele consegue tocar deste jeito maravilhoso. Ao fim deste solo pianistico o maestro ainda extasiado com as mãos pequenas, não se deu conta que era a vez da orquestra entrar. Uma das mãozinhas do pianista teve que fazer um gesto agressivo para tirar o maestro do sonho e entrar com a orquestra.
O concerto para piano terminou muito aplaudido e com um pequeno "encore". 
Nelson Freire, saiu timido, com poucos sorrisos e agradecimentos. Ganhou uma rosa e a minha satisfação de poder ouvir um pianista baixinho com mãos bem pequenas mas com um talento fora do normal.

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Frio, chuva e vento. Nada me tirou a vontade de assistir aos Contos De Hoffmann na ópera de Zurique. Começou com uma discussão amigável com a moça que controla os bilhetes que queria de toda a maneira que eu deixasse meu casaco no "garderobe" coisa que me recusei a fazer. Explicou que é o seguro que exige pois se eu for responsável por um acidente de alguém tropeçar no casaco quem paga o seguro sou eu uma vez que é obrigatório usar o tal "garderobe". Não entreguei o casaco.
Sentei numa frisa, na primeira cadeira onde tinha o palco todo a minha lateral e a orquestra abaixo de mim. O maestro era um velho "conhecido" meu, David Zinmam que é o chief conductor da Tonhalle. A opera era de 3 horas e meia, com excelentes vozes e um tenor de arrancar suspiros. O cenário era pobre para padrões zuriquenhos. 
A umas tantas deixei de ver as cenas por inteiro, pois uma vizinha da frisa ao lado resolveu  cutucar o brinco dela e acariciar os poucos cabelos loiros. Com isso ela se inclinou para frente e cortou a minha visão pela metade. Dei duas tossidinhas de leve para mostrar o meu desagrado e de pronto ela recuou. Mas por 10 minutos. Depois voltou a tirar o brinco, coloca-lo de volta e massagear, massagear, massagear, com  corpo de vez em cima do parapeito. Não deu mais para ver  o que acontecia no palco e ela nem estava aí para sequer perceber que poderia eventualmente estar cortando a visão. Sim, ela era loira, brincos de falsos brilhantes e uma idade que era uma mas que queria ser outra. Precisa dizer mais? 
A obra é bonita, romantica e sem grandes tragédias, típicas de operas. O canto era em frances e os duetos lindos. Pena que não pude ver por inteira. Se pelo menos pagasse meia…. 

domingo, 18 de setembro de 2011

A Viagem


Em abril de 2011, decidi que deveríamos ir a Polonia. A esta altura estávamos em Zurique.
Primeira coisa a fazer: ir a loja da Swiss, falar com nossa amiga Lucy e verificar os voos. Como o meu interesse era Cracóvia e não Varsóvia, só tinha com escala em Viena. Marcamos para ir dia 10 de setembro. Fizemos reserva de hotel pela internet e pegamos uma série de informações do que fazer por lá.
A medida que a data ia chegando, eu treinava meia dúzia de palavras para esnobar o meu passaporte polonês.
Chegou a data.  Pegamos o avião para Viena, trocamos um pouco de dinheiro para comer um sanduiche -euros- e pegamos a conexão para Cracóvia.
Chegamos pelas 2 da tarde, um taxi para o hotel e fomos andar.  Andamos durante horas pela praça principal no centro histórico, paramos para um lanche e voltamos para um descanso.  A noite fomos a um restaurante recomendado pelo hotel e jantamos comidas típicas.
Na manhã seguinte, pegamos um taxi elétrico que por uma hora nos levou aos principais pontos turísticos. Deu para ter um ideia da cidade de 800 mil habitantes. Depois refizemos tudo a pé para tirar fotos.
E assim se passaram os quatro dias. Céu sempre azul, sol, calor e noites de lua cheia. Cracóvia lembrou muito alguns lugares da Itália. Muitas casas e prédios em péssimo estado, ruas bem esburacadas, mas uma enorme força em preservar o turismo e melhorar a aparência recente de uma era que saiu do comunismo há pouco mais de 20 anos.
O povo é extremamente simpático, prestativo e até divertido. Na parte de serviços tipo hotéis, lojas e restaurantes, todos falam inglês e a comunicação fluiu muito bem.

Cracóvia tem uma importância histórica pois foi uma rota de comunicação entre o norte da Europa e o sul, passando por vários povoados ainda não bem estruturados. É como se fosse um grande entreposto comercial, onde tudo era negociado. A praça principal da cidade é de um gigantismo e espaço aberto onde se pode imaginar como era grande o comercio que era feito. A cidade tem mais de 170 igrejas, sendo que 70 delas estão no centro histórico. Visitar uma igreja por lá requer respeito pois sempre está acontecendo uma missa ou algo equivalente, e tem sempre muitas pessoas rezando.

A maior frustração foi pessoal.
Separei o meu passaporte polonês, nem levei o outro brasileiro para que eu tivesse a oportunidade de exibir o tal documento quando pedido.
Pois isto não aconteceu. Tanto Zurique ,Viena como  Cracóvia ficam na tal da área Shengen, onde se tem acesso praticamente sem documento.
Como não teve controle de passaporte na chegada, torci para que alguém me parasse na alfandega e pedisse documentos.
Pois fui barrado na alfandega, tirei o passaporte para poder esfregar na cara da funcionaria, mas ela olhou para mim e deu um sinal de prosseguir. Ou seja, o passaporte voltou incólume, eu fiquei absolutamente incógnito e frustrado, depois de batalhar quase 5 anos pelo passaporte!!!
Mas super valeu a pena.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tema e variações 1

Tema e Variações

Dificil é conviver nos dias de hoje com tanta diversidade. Hoje quero abordar a diversidade sonora. Meus sensíveis ouvidos são obrigados a conviver com todos os tipos de sons, desde um aspirador de pó do vizinho que produz um super ultrasom, a máquina de lavar/limpar piso ultra barulhenta e assim por diante. Sou do tempo que se usava vassoura para tirar folhas do chão e se usava a famosa “feiticeira” para tirar o pó. Um silêncio só.
Hoje sou obrigado a conviver com sirene de ambulancia, de bombeiro e de policia, com “som” de escapamento de moto ou de carro “envenenado”, com celular em cinema, teatro e restaurante, com gargalhadas e palavrões o tempo inteiro.
A sensibilidade do ouvido é medida por decibéis. Mesmo os mais baixos podem ser agressivos e desconfortáveis. Para mim, uma musica de rock ou axé é pura agressão, mesmo bem baixinha. Uma voz de taquara rachada tambem é agressiva aos meus ouvidos, assim como o som produzido por macaquinhos que ficam pendurados nas arvores do meu jardim. Falando em jardim, estou acostumado a acordar com o canto das maritacas, dos sabiás e dos bem te vis. Os ouvidos agradecem.
Durante o dia, ouço um pouco de musica erudita como as canções de Mahler, de Schubert, ou mesmo as poesias sonoras de Tom jobim. Tudo bem baixinho para deixar o pensamento fluir e encontrar uma paz perdida no tempo, na juventude e na história. Ainda acho que o silencio vale ouro. O resto chamo de interferência.

Outro dia, no taxi ouvi uma musica (pelo menos dizem que é isso) onde o tema principal era:
Ta rindo é?
Ah, recebi um torpedo da telefonia no meu celular prometendo desconto às três da manhã se eu puder falar. Mas de madrugada, quem vai me atender, quem vai me ligar? Eu heim!
(E era com a Ana Carolina, musa da atual juventude!!!)

Em seguida, no mesmo taxi ouvi:
Porque não eu?
Quando ela cai no sofá so far away.....

Pergunto: onde está a criatividade destes compositores, ou intérpretes?
Onde estão as caracteristicas típicas do choro pelo amor perdido, da saudade, da tristeza tão caracteristicas das poesias, das belas canções eruditas, das marchinhas, dos chorinhos  e até da bossa nova?

Pois é, o tempo se foi, e preciso me deitar no sofáraway e ficar no celular de madrugada para continuar antenado com a criançada de hoje. O Schubert e Mahler já eram e ficam na saudade.
Para quem quiser:

Ou mesmo de Strauss “A primavera” das quarto últimas canções:

Ou mesmo o canto do Bem te vi:

Querendo ainda tem:
http://www.youtube.com/watch?v=7DclMYmiXdo&feature=player_detailpage

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O golfinho, a alegria e o sonho


Tenho uma amiga que sonhou que um dia, passeando em Londres,  viu um golfinho nadando no Rio Thames, em frente a um prédio da Mercedes Benz, bem no centro financeiro da cidade.  Só poderia ser sonho, pois seria coisa de português encontrar um golfinho no rio, numa cidade como Londres.
Mas falando em sonhos, esta viagem por Zurique, Berlim e Londres fica na memória como sonhos. O verão europeu esquentou, fez calor e frio ao mesmo tempo, exibiu as flores e os verdes das árvores e diminuiu as roupas e sapatos. Andamos muito, vimos cenários bonitos e outros nem tanto. Muita pichação em todo lugar, e mesmo em monumentos e esculturas. É assim no mundo todo. É a linguagem mundial, coisa de internet, You Tube e iPod. Individualidade.
A alegria vem de Schiller, poeta alemão, que Beethoven incluiu na nona sinfonia como sendo a ODE À ALEGRIA. Em alemão: ODE AN DIE FREUDE.
Tive a graça, se é assim que se pode dizer, de assistir no último dia, como encerramento de mais uma viagem, a nona sinfonia ao vivo e a cores em Zurique, com a orquestra da Tonhalle, com Kurt Masur. Foi realmente uma alegria, cheia de conteúdo e de esperança. Todos foram aplaudidos (de pé) por bem mais de 10 minutos até o maestro fazer um tchauzinho e jogar beijos para a plateia.
A alegria.
O fato da gente acordar, se levantar e sair, tem um aspecto de alegria. A esforço que se faz para sair do estado de sono para ficar alerta e enfrentar o dia que começa, tem uma ponta de alegria. É a alegria de viver, de alguma maneira ser feliz e de ficar em paz. Todos temos a obrigação de ter alegria em nossas vidas. Se não a temos precisamos procurar onde ela está, pois ela existe e é tão boa.
O sonho.
Esta é a liberdade que a gente não controla. O sonho flutua na nossa mente, de um lado para outro, sem pé nem cabeça e sem explicação. É a fantasia pura. Se é a purgação de fatos que existiram ou se tem simbolismos, não vem ao caso os motivos. Estou vendo pela liberdade sem amarras.
Sonhar é bom, leva a gente a uma distancia, onde se pode ver golfinhos no rio Thames ou mesmo sentir a alegria que Schiller descreveu na Ode à Alegria.
O golfinho.
O golfinho sou eu, que sonha em estar livre, nadando pelos rios e mares do mundo ouvindo a sinfonia de Beethoven e sentido uma tremenda alegria.

Se tiverem um tempinho, assistam a este vídeo:


quinta-feira, 16 de junho de 2011

A nuvem sobre Berlim


Como tatus e fuinhas, fomos descobrir Berlim pelos tuneis do metro. Norte, sul, leste e oeste.
A menção de leste e oeste, nesta cidade é um enrosco só. Isto porque a guerra fria dos anos 50 e 60 fizeram com que os russos dividissem a cidade pelo meio, através de um muro. Não tinha ninguém que queria ir do oeste para o leste, mas do leste para o oeste sim, tinha muita gente querendo ir. E os soviéticos atiravam sem dó para matar quem tentasse passar para o outro lado. Mas seriam soviéticos? Ou os próprios alemães convertidos pela propaganda marxista?
Vi cartazes da época que diziam que alemão não mata alemão, mesmo assim, os soldados do tal muro eram alemães.
Falando em alemães, saímos numa estação do metro que dava num novo “Memorial do terror”. Um espaço aberto, onde debaixo de ruinas havia uma exposição dos campos de extermínio de judeus. E sempre a mensagem de “nunca esquecer”.
Fui ao Museu Judaico, onde tem a história dos judeus desde os tempos antigos, seus costumes e hábitos. Claro que um maior espaço é dedicado ao Holocausto, e a mensagem de sempre que nunca devemos esquecer.

Numa andança pela cidade, de noite, fui parar numa antiga estação de trem chamada ANHALTER. Só tinha uma  parte da fachada, e um grande espaço livre na parte dos fundos. Tinha uma placa explicativa a respeito. E foi aí que vi uma nuvem cinza em cima da cidade. Uma nuvem escura, densa, daquelas que ficam para sempre. Um tipo de pesadelo de força máxima.

A placa dizia o seguinte:
Foi nesta estação que os nazistas embarcavam os judeus para os campos de concentração e posteriormente para os campos de extermínio. Os judeus chegavam na estação de ônibus ou em caminhões,  com suas pequenas malas, em grupos  vindos de vários lugares e eram fortemente escoltados por guardas armados, e embarcados em trem de carga. As pessoas que estavam na estação indo ou vindo de algum lugar, viam o que acontecia e nada faziam.
Dá para entender o “não fazer nada” pois eram muitos guardas armados. Mas que eles sabiam , sabiam o que acontecia. O povo na época era conivente sim.

Por um instante minha mente fugiu e vi um comboio destas pessoas, submissas, mal vestidas, doentes e tristes sendo deslocadas das suas casas, do seu País, para ir não se sabe onde. Consegui ver o povo olhando este comboio e silenciar a medida que eles passavam. Consegui ver meu avô e avó paternos no meio do comboio, desesperados olhando para mim e eu nada pude fazer.

Podem unificar Berlim, como fizeram depois da queda do muro, podem reconstruir casas, igrejas e monumentos. Podem modernizar a cidade com prédios monumentais de arquitetura ultra moderna.
Podem fazer de tudo, mas sempre vai pairar no ar uma nuvem cinza chumbo, pesada e carregada de uma poeira que gruda na memória do ser humano.



domingo, 5 de junho de 2011

Emmanuel Pahud



Desde 2006, nas salas de concerto, tenho procurado ver este flautista. Já o vi em Luzern com a pianista Helène Grimaud e nos concertos digitais da Berliner Philharmoniker.
Pahud é um excelente flautista, com olhar cínico, jeito de bon vivant e extremamente seguro de si mesmo. Assistimos ontem em Zurique a um concerto com orquestra de câmara numa obra de Mozart para flauta.
Sentei na primeira fileira e fiquei com um lenço enxugando a minha babação. Estava a 2 metros de distancia dele e fiquei em estado de graça de poder ouvir a flauta. Havia momentos  em que eu não via a orquestra e nem o publico e fiquei com certeza que ele estava tocando só para mim. Uma ilusão boa de sentir.
No intervalo, saí correndo para comprar um CD das obras de Mozart para flauta, rasguei o celofane rapidinho e me postei na fila para um autógrafo.  Quando ele apareceu no corredor, me pareceu que ele diminuiu de tamanho, ficou baixinho e afinal  era normal.
A minha impressão  era que ele fosse alto, uns 2 metros de altura,  forte e gordinho e bem apessoado. Eis que de repente aparece um baixinho mas cheio de charme.
Consegui não só um autógrafo no CD, mas um monte de fotografias dele, algumas posando comigo.
Falei com ele!! Ele me contou dos próximos concertos, que virá ao Brasil no ano que vem, e dos planos dele na Berliner onde ele é “Principal Flautist". Apresentou os filhos que estavam lá com ele Tristan e Gregoire. Pediu que eu organizasse uma recepção para ele em São Paulo, e que ele faria um concerto beneficente que eu poderia organizar.
Saí de lá encantado com ele e o que ele representa para a música, e feliz com a ilusão que ele estava tocando só para mim, e que eu iria organizar a vida dele no Brasil. Pura ilusão, mas uma delicia de sensação.


   Como toda história bonita, tem um lado triste. Ele cria os filhos sozinho e o mais velho tem uma  leve sindrome de Down. É um menino bonito, doce mas com o olhar longe e curioso.


Vejam:  http://www.youtube.com/watch?v=w6HEn0Zu5tI&feature=related

domingo, 29 de maio de 2011

Poesia


Hoje tenho uma poesia triste para colocar no meu blog.
Goethe escreveu  e Schubert musicou este poema por volta de 1815. Vale a pena ler e depois ouvir no YOUTUBE uma interpretação magnífica de Dietrich Fischer-Dieskau.
Precisa levar em conta que na verdade são 4 personagens que o poema e o cantor representam: 1- o narrador, 2 –o  pai, 3 - o filho, 4 - o tal Rei dos Elfos.
O piano dá o tom da cavalgada, do mistérrio e do terror, e o cantor muda o tom de voz a cada personagem que interpreta.
Na verdade é um pequeno poema de amor e tragédia que nos faz pensar no nosso dia a dia, na fragilidade da vida e no amor que se tem ao próximo.
Ouçam, reflitam e  vivenciem este poema.



Quem cavalga tão tarde pela noite e pelo vento?
É um pai com seu filho.
Ele leva a criança em seus braços,
Ele o segura firme, ele o mantém aquecido.

"Meu filho, por que esconde tanto seu rosto?"
"Não vê, pai, o Rei dos Elfos?
O Rei dos Elfos com sua coroa e manto?"
"Meu filho... É apenas um filete de névoa."

"Você, criança querida, venha comigo
Tantos jogos divertidos jogaremos um com outro
Flores coloridas estão na praia,
E minha mãe tem para você vestes douradas."

"Meu pai, meu pai, não consegue ouvir
O que o Rei dos Elfos sorrateiramente me disse?"
"Fique calmo, fique calmo, meu filho,
 era apenas o vento passando pelas folhas secas."

“Belo garoto, vem comigo, não quer vir?

Minhas filhas cuidarão muito bem de você 

Minhas filhas estarão ao seu lado à noite

E vão dançar e cantar até você dormir.”

"Meu pai, meu pai, não consegue ver?
As filhas do Rei dos Elfos naquele
tenebroso lugar?"
"Meu filho, meu filho, bem sei o que vejo:
Apenas os velhos e cinzentos salgueiros."

"Eu te amo, sua beleza me encanta,
Mas, caso não queira vir por bem, então usarei a força!"
"Meu pai, meu pai, ele me pegou!
O Rei dos Elfos está me machucando!"

O pai, a tremer, apressa a cavalgada.
Ele segura em seus braços o menino a gemer.
Mas, com esforço e angustia chega em sua morada,
Mas em seu braços  a criança estava morta.

http://www.youtube.com/watch?v=5XP5RP6OEJI

terça-feira, 24 de maio de 2011

ConSerto


CONSERTO
Estive outro dia na Sala São Paulo para assistir a um conCerto de câmara.
A execução foi magnífica e  o conCerto bem agradável.
Durante o conCerto, a imaginação da gente viaja. E viaja longe. A obra em questão era difícil de assimilar, o que facilitava a viagem ser mais longa.
Fui até o Monte das Caveiras em Jerusalém, onde vi uma cruz no alto do tal monte. Fazia calor e frio ao mesmo tempo e sol e chuva também. Acho que a música me deixava abstrato.
Cheguei  um pouco mais perto da cruz e vi que tinha um movimento de pessoas ao redor. Vi uma senhora grande e baixinha vestida de preto se debelando com umas 5 pessoas. Estavam querendo crucificá-la. Ela era a única a falar, gritar e se contorcer enquanto os outros em silencio absoluto forçavam-na em direção a cruz.
De longe  vi que ela carregava uma bolsa enorme e dava bolsadas em todos.
De repente notei que eu estava segurando um braço dela e encaminhando para a cruz. Me deram um prego enorme, um martelo e percebi que era eu que tinha que pregar esta mulher na cruz.
Os instrumento musicais deram um intervalo, e quando olhei para traz, a mulher que eu iria crucificar estava por acaso bem atrás de mim, abrindo e fechando a bolsa o tempo todo, tossindo na minha nuca, abrindo o celofane de uma bala e depois brincando com a embalagem, e assim por diante.
A mulher em Jerusalém, no Monte das Caveiras era ela, e eu teria que crucificá-la. E faria com prazer, pois era o que ela merecia naquele momento.
Mas a história que queria contar vai além das Caveiras. Vai  parar nas favelas brasileiras.
A segunda parte do conCerto era forte, agressiva, tumultuada, com os instrumentos tocando ao mesmo tempo em total dissonância. Me senti no meio de um tiroteio na favela da Rocinha, tentando defender a Gisele Bündchen. Foi difícil e quase não consegui. Tivemos que sair por uma porta de emergência, subir escadas no escuro, sair pelo saguão do palácio e quando achei que finalmente estávamos salvos, havia um homem alto, jovem, fardado  cheio de insígnias e sem paletó mas estava com uma arma de grosso calibre na cintura.
A musica me levou para longe, mas não tão longe de mim, na primeira fila da Sala São Paulo, havia um homem, alto, jovem, fardado cheio de insígnias e sem paletó que de fato estava com a tal arma na cintura, a vista de todos.

Concerto é com c ou com s?
Nós assistimos a um conCerto, mas a Sala São Paulo, a Sociedade de Cultura Artística e o Governo do Estado precisam é de um bom conSerto no que se refere a entrar com arma de fogo num teatro ou sala de conCertos .

domingo, 15 de maio de 2011

Pichadores 2


Na distinção que quero fazer, aparecem 3 categorias na comunicação da pichação. Na verdade toda pichaçãoo, seja artística ou não tem como finalidade a comunicação.
Então vamos lá.
A primeira seria a comunicação suja. Uma falta de talento,  raiva, angustia e uma vontade de destruir o que não é dele. Categoria:  PICHADOR ANARQUISTA . Não só de estragar muros, portas,  fachadas mas estragar e sujar monumentos, pedras, mármores, antiguidades e propositalmente destruir o que existe. É o protesto puro e simples. Nesta categoria entram as gangues, competições e recados.

A segunda  seria da comunicação visual.  Aparece o talento e a vontade de aparecer, ser celebridade, ser conhecido. Categoria: PICHADOR ARTISTA FRUSTRADO. São graffiti em muros ou espaços públicos cuja finalidade seria de comunicar um talento,  como os efeitos em 3D, ou os que tentam mostrar talento mas acabam destruindo o espaço publico e privado. Seria como um objeto enferrujado.

A terceira  seria a da comunicação artística.  Esta tem como intenção de “embelezar” um espaço, decorar, mas sempre com o intuito de aparecer, se mostrar e se vender. Não tem protesto. Categoria: GAFITEIRO.
Aparecem os Alex Vallauris, o Cobra, que entre muitos trabalhos fez o da 23 de maio, e outros artistas.  Trabalham de graça para obter trabalho pago, exposição ou modismo de pintarem paredes de casas particulares.

Recomendo leitura de um post: OUTRAS PALAVRAS, um artigo de CAROLINA GUTIERREZ: Graffiti, arte de rua, poesia e protesto ( muito melhor e mais cientifico que o meu)  http://www.outraspalavras.net/2010/09/11/graffiti-arte-de-rua-poesia-protesto/



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eu matei


Eu matei.       
Há anos estava tudo preparado. Todos os planos checados e rechecados semanalmente. O serviço de inteligência monitorava por anos a mesma cidade, a mesma área, a mesma casa. A gente não sabia o por que disso tudo.
Sempre quando chegávamos ao ponto 3, víamos a mesma cena na enorme tela. A casa em detalhes de HD, quem entrava e quem saía.  Via-se tudo ao vivo e a cores.
Um jardineiro que ia em dias aleatórios era o nosso alvo. Mas porque um jardineiro? Veio a instrução de abduzir esta pessoa, sem que ninguém percebesse.   A ordem prosseguia no sentido de alerta máximo: de que uma vez o tal jardineiro desaparecesse da face da terra, haveria uma ação fulminante.
Pois bem, foi assim que aconteceu. Vestimos nossas roupas a prova de UZIS, e de qualquer outro tipo de arma, colocamos nosso capacete desenvolvido pela Nasa e Billington, que é a prova de contaminação atômica e de tiro. Assim nos sentíamos protegidos.   Podia até ter uma explosão com bomba de hidrogênio, que nós estávamos seguros.
O jardineiro saiu da tal casa, virou pra cá, virou pro outro lado, seguiu em frente e antes de perceber, ele sumiu.
No ponto 4, com tradução simultânea que a expert Terèse fazia, ele contou tudo e como funcionava a tal casa. Em questão de minutos fomos até a casa e atiramos em todo mundo sem distinção. Só uma pessoa deveria sair ilesa. E foi assim que aconteceu.
Ninguém viu, ninguém notou mas em questão de segundos Bin Laden estava a bordo do meu helicóptero. Antes que ele tentasse qualquer coisa, foi despido, a barba cotada e os olhos encobertos. Como ele não falava, e via-se que ele não iria abrir a boca,  nós o sedamos  lentamente ao ponto de manter certa consciência.  Aí ele falou tudo o que o pessoal queria. Como ele fazia hemodiálise, pegamos a cânula que ele tinha no braço e injetamos insulina  para que ele falasse ainda mais . Falou um pouco mais.
Depois veio a ordem. Antes de atirar o corpo no mar, quem quiser que atire no monstro. E eu atirei.
Não me arrependo do tiro, só me arrependo de ser ingênuo e hipócrita como a grande maioria dos meus conterrâneos e acreditar neste história.
E daí? O que mudou para mim ou para o mundo? Nada.
Uma enorme e caríssima operação de quase uma década para acabar deste jeito e fazer com que o mundo (planeta) todo acreditasse nesta bobagem.
O falecido já não tinha importância na organização há muito tempo. Passava o tempo casando e fazendo filhos  e vendo propaganda de Coca Cola. E comendo pipoca Orville amanteigadas.
Tudo por uma eleição, tudo por uma causa pouco nobre--vingança--e tudo pela
ganancia do poder.
E nós por trás de tudo isso.
Eu protesto

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pichadores


Inicio este Blog com a intenção de trazer à superfície questões que incomodam a gente que não sabemos como agir.
O primeiro assunto em pauta é sobre a pichação.
Sabe-se que os pichadores agem em grupos. Vamos chama-los de gangues. É raro um pichador individual. Estas gangues disputam espaço com outras do mesmo bairro ou bairros vizinhos. O básico das disputas são vantagens que uns conseguem sobre os outros, ou seja: quem picha mais alto, mais colorido, mais proibido, mais arriscado e assim por diante. São pessoas que possuem um certo dinheiro pois a tinta não é de graça. Não precisa muito, pois em grupo dividem a conta. Alguma instrução eles tem, pois na maioria das vezes os desenhos fazem sentido e a escrita não é das piores.
O que é comum a eles é o que nós chamamos de desrespeito a propriedade alheia e a desconsideração com a cidade.
Nós achamos que eles emporcalham a cidade, deixam-na  com ar de abandono, suja e descuidada.
Mas é isso que eles querem. Eles são anarquistas e o caos é o objeto deles.
Como conviver com estes dois aspectos: o caos e a ordem.
O mesmo se dá em viver em condomínio. O vizinho gosta de pagode e o outro de jazz. Um coleta lixo ecológico e o outro atira na rua. Um fecha o terraço do prédio com vidro o outro deixa como comprou. Um tem cachorro chato que late, o outro tem um papagaio. E assim por diante. Tudo tem que ser resolvido na boa vontade, no meio termo e no acordo.
Assim deveria ser com os pichadores.
Quantos eles são? Quantas gangues? Imagino que não passem de 60.000 indivíduos. Todos na grande São Paulo. Todos caberiam num estádio de futebol. De pé no gramado ou sentados nas arquibancadas.
Esta população do estádio seria responsável pelo emporcalhamento de toda a cidade?
Dá para imaginar que 60.000 indivíduos conseguem fazer com que 16 milhões de habitantes convivam com esta sujeira? E os turistas?
Não ofereço sugestões de soluções. Só quero que todos pensem que menos de meio porcento da população se faz notar, anonimamente mas visualmente com poder.
É este poder que o anarquista quer. E é aí que se deve começar a entender como proceder daqui para frente.